Natal



Natal
Zilah Gonçalves Fernandes

(UNITI Universidade Terceira Idade RGS - Grupo Literatura)

Marcham os anos, sucedem-se os séculos: é o perpassar do tempo que , indiferente às lamúrias humanas, continua implacável seu trajeto ilimitado. Perdem-se os fatos na sucessão gigantesca das horas e os seres se gatam na passagem tumultuada da vida.
Entre os compassos febris de uma existência fugaz, legou-nos Deus o signo bendito de sua perenidade: deu-nos alma, que nos elevaria sobre a decadência das coisas mortais, desafiando a tudo com seu mistério; alma para o sentimento, alma para o sacrifício, alma para a glória. Dotou nossos corações de um amor que sofre e luta, perdoa e redime; nossos atos com reflexos de Sua sabedoria infinita...E hoje, agradecidos, bendizemos tudo isso.
Não quis câmaras suntuosas, aparatos, nem galas mas a humildade de uma estrebaria. Ali, dispensando honrarias e pompas, estava Aquele cujo nascimento obscuro era uma promessa confortadora de amor. Ante o Presépio curvam-se todos, porque dali irradiou-se a mais poderasa das bênçãos: a Redenção. Natal expande ternura, grandiosidade, fulgor intenso Aquele Jesus pobrezinho inunda nossas almas de sentimentos sublimes: seus olhinhos meigos nos incitam a reflexões profundas, suas mãozinhas erguidas nos convidam a um viver de paz.
É NATAL! A humanidade inteira louva o Deus Menino na manjedoura onde nasceu tornando-se mortal para salvar o mundo. Viveu e nós somos altivos; modesto, e seguimos soberbos; morreu magnânimo, e continuamos inflexíveis.
O exemplo daquele Menino que conheceu a luz terrena sem conforto, viveu desprezado e morreu perseguido, é grito que clama por reflexão. Aquela estrela de Belém procura pela humanidade remida. A cena comovente do nascimento Divino pede ao mundo reverência e fervor.
Perante o Presépio, inclinam-se jovens e velhos, renovam-se as esperanças e as tristezas se aplacam. A tudo está atento o Menino Jesus no seu Natal: a olhos infantis que se erguem confiantes, ao louvor dos bons e à indiferença dos maus, ao clamor dos enfermos, e dos desfavorecidos. A todos Ele abençoa e contenta.
NATAL! Dia de enlevo e de adoração. Ricos e pobres, felizes e desgraçados, rogam favores ao Divino Infante. Quanta soberana piedade nos vem daquele bercinho mísero!
E os homens de todos os tempos, de todas as raças e crenças, renovam, a cada ano, seus pedidos e súplicas por uma vida melhor.Passarão os anos e as gerações humanas mas enquanto existir uma alma com fé há de ser lembrado o Natal, sua comovedora significação, sua influência majestosa e eterna.

Hino para a UNITI

Este acróstico foi musicado pela minha filha Prof. Carla Fernandes para constituir-se em hino para a UNITI - Universidade da Terceira Idade UFRGS - Instituto de Psicologia - Grupo Literatura


Unindo idéias, aclarando mentes,

Num conviver alegre de amizade

Idosos demonstrando conscientes,

Todo valor dessa terceira idade

Impelida a viver ativamente.

21 Junho 1999



O texto foi lido em sessão solene finalizando seminário da UNITI

A vaca Nadine


Vacas começaram a enfeitar a cidade de Porto Alegre desde o dia 9 de outubro ; a da Nina, minha neta, é a 63 e está no largo da Epatur na Cidade Baixa!


Vivência

Sou um privilegiado! Apesar do longo tempo de vida e desgaste natural, estou intacto e apto a agüentar muito mais. Presencio incontável sucessão de acontecimentos, alguns ditosos, outros deploráveis. Alegro-me nas comemorações festivas e sofro com lágrimas, contidas ou extravasadas. Testemunho cenas de encontros e desencontros que muitas vezes me desestruturam. Obrigado à impassibilidade, sofro danos com investidas de adultos relapsos e crianças mal vigiadas, todos insensíveis à minha frágil constituição e ao meu valor material. Quando novo era admirado pela beleza; hoje, apenas pela classe que ostento. Participo involuntariamente de fatos que extasiam ou torturam, saudações eufóricas ou despedidas angustiantes. No desenrolar dos dias, sob iluminação solar ou negror da noite, assisto estupefato gritos, sussurros e lamentos. Contrariado, nada manifesto. Na casa chique que habito, especial cuidado devotam por temor a danos que me possam causar. No estado de inatividade total e esteticamente apreciado, enfrento o que pode acontecer-me como magnífico ornamento de sala. Orgulho-me de ser, ainda que desgastado e sofrido, um lindo tapete artesanal da Pérsia!

Outubro 2003

Onde está o lirismo ?

Composta em quantidade, a poesia moderna, ainda que admirada, de alguma forma dificulta a divulgação das obras de poetas outrora apreciados.
Não totalmente contrária à poesia moderna, muito aprecio o encanto suave do versejar antigo. Na era do rap e da tecnologia, expressões modernas de efervescência e dinamismo, o lirismo das formas poéticas ausentou-se de vez.
Às belas estrofes de métrica e ritmo impecáveis juntam-se composições de versos mal feitos, a esmo, com motivos por vezes banais. Não se transmitem com tanta sentimentalidade as emoções da alma; em vez disso, esbanjam-se expressões difusas, dentro do que se propõe chamar de poesia objetiva.
O poeta contemporâneo expõe seu eu sem a preocupação primordial de ser compreendido. Tal forma poética não consegue penetrar no âmago do leitor de fina sensibilidade por ser desordenada e desconexa, produtos da era atual em que tudo marcha para a simplificação e o aniquilamento.
Embora o progresso extermine o que não condiz com o transcorrer evolutivo, é mister que subsista a poesia como expressão de sentimentos íntimos perpassados em versos.
Muitos jovens desconhecem obras poéticas de autores clássicos. Se desejarem rever criações antigas basta um clique no mouse para encontrá-las na Internet. Olavo Bilac, Machado de Assis, Raimundo Corrêa, Wamosy e outros podem ser reeditados para que a geração atual conheça e experimente o romantismo vivido por seus avós.
Pelo esquecimento e menosprezo à poesia é que o amor, este excelso sentimento, vem sendo deturpado, maculado e incompreendido.
Busquemos serenidade e conforto na tepidez de belas e delicadas criações poéticas quando agitados momentos modernos nos exigirem!

Testemunho

No último encontro interpessoal no qual participei, proveitosa atividade que visa unir os grupos das várias oficinas na UNITI (Universidade da Terceira Idade) , com exposição de motivos para troca de idéias, nos foi apresentado, para análise e interpretação, o final do texto “arte de ser feliz “ de Cecília Meireles. Nele, em cada parágrafo, a escritora inicia dizendo “houve um tempo em que a minha janela se abria...” e descrevendo suas visões paisagísticas, termina, cada vez repetindo, “ e eu ficava completamente feliz”.

Freqüentando eu a UNITI desde 1999, quero dar meu testemunho nesta Jornada, em que se mostra e apresenta e a UNITI, quero, parafraseando a belíssima obra de Cecília Meireles, dizer-lhes:

- houve um tempo, desde menina, em que minha janela se abria para contemplações poéticas e compunha versos, redigia crônicas, rodeada pela família e sentia-me completamente feliz;

- houve um tempo, na juventude, em que minha janela se abria para espalhar ensinamentos a alunos ávidos por sabedoria e meu coração estava completamente feliz;

- houve um tempo em que minha janela se abria para a felicidade de um lar bem construído e minha alma ficava completamente feliz;

- houve um tempo em que de minha janela, com amargura, me vi sem incentivo pela perdas, de mãe, do marido e do pai , com filhos buscando seus próprios rumos, e então, soterrando minhas produções literárias, não podia e não estava feliz;

- houve um tempo porém em que de minha janela descortinei novos horizontes, conhecendo a UNITI e nela pela oficina de literatura,vi renascer minha capacidade de criar , adormecida pelas vicissitudes, e vibrando a cada inspiração, em prosa ou verso e com meus prêmios, me senti e considero que volto a ser feliz..

Concluirei com a parte final de Cecília Meireles, que nos foi apresentada: “mas quando falo dessas pequenas felicidades , que estão diante de cada janela, uns dizem que estas coisas não existem e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhá-las , para poder senti-las”.

Zilah Gonçalves Fernandes

Setembro 2002.

Minha Pelotas


Minha Pelotas


Muito tempo de ausência e volto aqui
revendo-te Pelotas, terra minha
no abandono, sem viço e pressenti
que paraste no tempo, pobrezinha.


A intensa luz que cintilava em ti
rica em saber e que nobreza tinha,
se extingue nos escombros que não vi
abalando teus brios, ó Princesinha.


Foste infância e de jovem meu abrigo
quando honrei teus costumes fielmente
e ao partir tua história foi comigo.


Volta Pelotas, à glória e realeza,
quero ver-te altaneira e novamente
liderando em cultura e na beleza.

Fevereiro 2003

Servir

SERVIR


Zilah Gonçalves Fernandes


Servir é causa bela e relevante
engrandecendo humanos corações,
desejosos de ver a todo instante
a paz unificando as gerações.


Um voluntário é força palpitante
a gerar só benéficas ações,
espalhando, no perto e no distante,
caridade sem fim, sem dimensões.


Quem serve tem em si Cristo presente
nas tantas espontâneas doações
ao irmão que tornou-se um ser carente.


Bendito aquele, nobre em intenções,
que compensado pelo Onipotente,
plantando um bem, há de colher milhões!


No 48° aniversário da Sociedade Beneficente

“PÃO DE SANTO ANTÔNIO” em 04.12.2002.

Nossos sete e nove

Nossos sete e nove



Minha irmã, cá estou eu regressando
para juntas, o “niver” festejar;
gêmeas somos, e mesmo longe estando
sempre amigas, sem nada a separar.



E são mútuos os nossos pensamentos
nesta fase da vida a transcorrer
quando tudo retorna por momentos
com remotas vivências a trazer.



Em Pelotas, o solo que prezamos
há lembranças por nós enraizadas
nos caminhos bem longos que trilhamos.



Mas seguimos assim, velhices sustentadas,
neste afã de servir a quem amamos
e por Deus, nosso Pai sendo guiadas!


Pelotas, em 26 de janeiro de 2010.
(Aniversário de Zenia e Zilah)